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Conhecendo um pouco mais do nosso projeto...

    Buscando estreitar a relação com a sociedade, as universidades fomentam ações em forma de projetos de extensão, fortalecendo seu papel social e transformador. Em consonância, este projeto de pesquisa é resultado de um projeto de extensão desenvolvido no ano de 2020, que trouxe novas perspectivas sobre o Ensino de Química em Libras e inspirou este estudo. 

       Inicialmente, o projeto de extensão teve como objetivo investigar a sinalização Química em Libras utilizada por Tradutores e Intérpretes de Língua de Sinais (TILS) nas escolas de Blumenau - Santa Catarina e, ao final, pretendíamos organizar um glossário com o material coletado. Porém, o projeto teve que tomar novos rumos por conta do isolamento social ocasionado pela pandemia da COVID-19, que inviabilizou a troca de experiências com TILS e estudantes surdos. Assim, uma nova estratégia de investigação foi proposta para as condições remotas disponíveis: uma busca pela sinalização Química em Libras na plataforma YouTube e em dois repositórios de periódicos.

       O levantamento de dados do Youtube se justifica pois, segundo DataReportal; We are social; Hootsuite (2020), essa plataforma foi a mídia social mais buscada pelos brasileiros em janeiro de 2020. Somado a isso, temos a relevância de conteúdos produzidos em vídeos na área da Libras, respeitando o aspecto visual e espacial da sinalização, além do fácil compartilhamento dos vídeos, interação entre usuários e criação de conteúdo quase ilimitado (CORREA; PEREIRA, 2016). Por conta disso, o YouTube foi definido como um bom corpo de dados. A partir disso, nesse projeto de extensão, utilizando as palavras-chave glossário, Química e Libras, foram analisados vídeos e canais do Youtube que se dedicavam ao desenvolvimento de sinalização relacionada à Química.

        Ao total, foram analisados 52 canais, em maioria sob domínio de TILS e instituições de apoio aos surdos, e ainda, identificadas 334 palavras associadas ao contexto da Química e 583 sinais-termo diferentes para representá-las (BARTH; FARIA; CORRÊA, 2020) . Essa diferença entre palavras e sinalizações pode ser explicada pela não padronização de sinais-termo na Libras, saturando a plataforma com conteúdo repetitivo ao invés de fomentar o desenvolvimento de novas sinalizações na área da Química. 

        Em um novo estudo, adotando uma pesquisa Estado da Arte, foram analisados, ainda durante o projeto de extensão, o Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) por conta do fácil acesso a conteúdo gratuito e grande extensão de trabalhos publicados, visto que tratam-se de plataformas que integram teses, dissertações e pesquisas de diversas instituições de ensino do Brasil. Para a busca, foram combinadas as palavras-chave: Libras, Química, glossário, sinal e sinal-termo e, assim, identificadas nove pesquisas englobando 286 palavras relacionadas ao contexto da Química e 355 sinalizações. Examinando as pesquisas em conteúdo e organização, percebemos que minúcias ligadas ao design e estruturação de um glossário podem dificultar o acesso e, principalmente, a compreensão da sinalização, visto que, em maioria, a sinalização era representada em duas dimensões. Apenas uma das pesquisas preocupou-se em proporcionar o entendimento da sinalização também no formato de vídeo, visto que incluiu em seu glossário links da sinalização no Youtube.

        Os resultados do projeto de extensão vivenciado trouxeram diversas reflexões a respeito do Ensino de Química em Libras, sendo um deles o tempo investido nas buscas, principalmente por conta da dispersão do material em diferentes canais, vídeos, pesquisas e plataformas. Dessa forma, evidenciamos a necessidade de um glossário que englobe a sinalização Química existente compilada e organizada, respeitando o aspecto visual e espacial da Libras, além de contemplar o caráter científico atrelado aos termos da área.

           Em uma análise das publicações do Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ) entre 2008 e 2018, Paixão e Guedes (2021) encontram 21 trabalhos que relacionam o Ensino de Química e o estudante surdo. Dentre essas pesquisas, 5 destacaram a dificuldade em encontrar a sinalização de conceitos químicos para que TILS, estudantes e professores consigam manter o diálogo efetivo em sala de aula. Já Pereira, Benite e Benite (2011, p.49) descrevem que “a aprendizagem da criança surda é mais lenta, pois ela não recebe, comumente quantidade de estímulos que uma criança ouvinte”. Os autores relatam que o processo de aprendizagem do estudante surdo está diretamente associado aos estímulos e incentivos que recebeu ao longo de sua trajetória formativa, não caracterizando como melhor ou pior, apenas diferente do estudante ouvinte. 

             A Libras tem papel fundamental para a construção da identidade das pessoas surdas, visto que é a partir dela que acessam às produções artísticas, científicas, culturais e tecnológicas e relacionam-se com os demais indivíduos (SÁ, 2006). E quando sua forma de comunicação não é contemplada nos planejamentos das aulas ou dificultada pela escassez de sinalização existente, o questionamento para quem é a educação? vêm a tona ressaltando o quanto a escola também pode ser um lugar excludente.

            Isto posto, o presente projeto foi estruturado e justificado para contribuir na divulgação da sinalização química já existente em Libras. Ainda, quando refletimos sobre os aspectos tridimensionais em que a Libras é fundamentada, temos que glossários em duas dimensões nem sempre são efetivos na compreensão de todos os pormenores da sinalização. Esse, além de ter sido um motivo para a busca por sinais-termo no YouTube, também é associado quando pensamos no desenvolvimento de um glossário digital. 

          Ao entrelaçar a Libras com os recursos tecnológicos atuais, temos que o desenvolvimento de um glossário digital, no formato de um site, torna-se muito mais eficiente no que tange a Libras, além de mais bem sucedido na divulgação desse material para mais pessoas e instituições.

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Um pouco mais de nossas publicações:

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Referências

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BARTH, Maitê Thainara; FARIA, Fernanda Luiza de; CORRÊA, Fabiana Schmitt.  A interpretação da Libras no Ensino de Química: um estudo dos sinais-termo encontrados no YouTube. In: Anais do 20º Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ Pernambuco). Anais. Recife, 2020. Disponível em: <https://www.even3.com.br/anais/eneqpe2020/247792-a-interpretacao-da-libras-no-ensino-de-quimica--um-estudo-dos-sinais-termo-encontrados-no-youtube/>. Acesso em: 15/07/2021

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DATAREPORTAL; WE ARE SOCIAL; HOOTSUITE. Digital 2020: Brazil. Disponível em: <https://datareportal.com/reports/digital-2020-brazil>. Acesso em: 15 fev. 2021.

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CORREA, Adriana Moreira de Souza; PEREIRA, Hérica Paiva. O YouTube como ferramenta pedagógica em sala de aula: uma prática de letramento. Revista de Pesquisa Interdisciplinar, Cajazeiras, v. 1, Edição Especial. p. 381-389, set/dez 2016.

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PAIXÃO, Gleyvison César Felix; GUEDES, Marilia Gabriela de Menezes. ENSINO DE QUÍMICA E O SURDO: uma análise das publicações do encontro nacional de ensino de química e de professores atuantes na educação básica do estado de pernambuco. Revistadebates em Ensino Dequímica, Pernambuco, v. 7, n. 1, p. 91-104, ago. 2021.

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SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de surdos. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2006.

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